Segundo levantamento realizado pelo Instituto Trata Brasil no mês de novembro, 6 em cada 10 moradias rurais no Brasil não dispõem de acesso à rede de água tratada. Em 2022, o número de brasileiros que moravam em habitações sem acesso à rede geral chegou a 27,20 milhões de pessoas, o que corresponde a 12,7% da população brasileira.
Do total das moradias brasileiras com privação de acesso à rede de distribuição de água tratada, 35,8% estavam em áreas urbanas e 64,2% em áreas rurais, indicando uma inadequação na infraestrutura básica local. Em termos demográficos, contudo, a distribuição foi bem distinta: 51,5% da população em privação de acesso à rede de água morava nas áreas urbanas das cidades brasileiras, enquanto apenas 48,5% das pessoas nessa situação estavam nas áreas rurais.
Para Fernando Silva, CEO da PWTech, startup de purificação de água potável reconhecida pela ONU como uma solução humanitária, os dados expõem a desigualdade social existente no país. “Quando falamos de infraestrutura básica e acesso à água tratada, o investimento por pessoa deveria ser de R$ 200, mas vemos que, em determinados estados/regiões, não chega a R$ 35. A situação ainda é agravada pela escassez hídrica e a falta de manejo e uso sustentável dos recursos naturais, que prejudicam ao menos 30 milhões de pessoas que moram em áreas rurais. São indivíduos que muitas vezes percorrem a pé quilômetros de estrada em busca de água potável. Necessidade básica garantida por lei, mas ainda muito fragilizada em locais afastados de pólos urbanos “, diz.
A análise ainda identificou que 70,2% da população morando em habitações sem acesso à rede de distribuição de água tratada estavam acima da linha de pobreza em 2022. Em termos de frequência relativa, 23 a cada 100 pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza tinham privação de acesso à rede geral de abastecimento de água em 2022.
Mas um problema sempre está ligado a outro, ainda mais tratando-se de água e saneamento básico. Muitas casas ainda sofrem com a privação de banheiros. Do total das moradias brasileiras com privação de banheiro em 2022, 27,4% estavam em áreas urbanas e 72,6% em áreas rurais, indicando uma inadequação maior das moradias no meio rural. Essa ideia é corroborada pelo fato de que 10 a cada 100 moradias rurais não dispunham de banheiro de uso exclusivo.
“A água é o elemento mais crítico se tratando de qualidade de vida. É um recurso presente na higiene pessoal, alimentação e hidratação, sendo fundamental para a saúde humana. Em locais remotos e afastados de grandes centros urbanos, o acesso é crítico, podendo aumentar a incidência de doenças por veiculação hídrica, como diarreia aguda, cólera, febre tifóide, entre outros, levando até a altas taxas de mortalidade”, complementa Silva.
Quanto ao armazenamento de água potável, do total das moradias brasileiras com privação de reservatório de água em 2022, 87,3% estavam em áreas urbanas e 12,7% em áreas rurais, indicando uma privação desse bem maior nas moradias do meio urbano. A frequência relativa, contudo, foi muito parecida entre as duas regiões: 14,7% das moradias urbanas não dispunham de caixa d’água enquanto que 15,3% das moradias rurais não dispunham de bem.
Em termos populacionais, a distribuição também foi distinta: 49,5% da população sem reservatório d’água morava nas áreas urbanas das cidades brasileiras, enquanto que 50,5% das pessoas em privação estavam nas áreas rurais. “É necessário o desenvolvimento de políticas públicas de incentivo, que priorizem a infraestrutura básica nessas regiões. As pessoas estão adoecendo e morrendo pela falta de água potável”, finaliza Fernando Silva, CEO da PWTech.